domingo, 15 de setembro de 2013

O povo merece mais e melhor

Diário de Coimbra, 15.set.2013

Comparando a situação financeira atualmente vivida pela maioria dos portugueses com a que desfrutavam antes do eclodir da crise internacional de 2008/2009, não há dúvida de que está bastante pior.

Todos fomos informados de que a situação económica portuguesa tinha chegado ao limite, em resultado dos inúmeros erros cometidos por quem nos tem governado, desde há muitos anos. Os mesmos erros são igualmente extensivo aos gestores das empresas e a muitas outras entidades públicas e provadas, aos especuladores e aos homens sem escrúpulos que gravitam à sombra do poder económico, financeiro e político.

Embora seja justo reconhecer que cada um de nós tem a sua quota-parte de responsabilidade em relação aos erros cometidos, considero que é imperativo reconhecer-se que tais responsabilidades não devem ser repartidas da mesma forma entre os que estiveram envolvidos nas decisões tomadas, com os cidadãos comuns.

Apesar disso considero-me também corresponsável pelo caminho seguido, dado que não assumi as atitudes cívicas que devia ter adotado, denunciando e combatendo com maior determinação os graves atropelos que têm vindo a ser cometidos em Portugal. Importa ter presente as consequências das medidas tomadas relativamente à qualidade de vida de muitos dos nossos concidadãos que perderam o emprego e a esperança e que se debatem com grandes dificuldades para garantir a sua sobrevivência e a do seu agregado familiar.

De facto, são inúmeras as injustiças que o processo de ajustamento em curso está a provocar em milhões de portugueses devida à repartição muito desigual dos sacrifícios que estão a ser impostos.

É recorrente sermos confrontados com notícias de que um elevado número de portugueses são atirados para um estado de grande penúria, ao mesmo tempo que outros cidadãos continuam a beneficiar de um estatuto privilegiado suportado por dinheiros públicos.

Refiro-me, concretamente, aos políticos que beneficiam de reforma vitalícia pelo exercício de funções públicas, aos que acumulam reformas pagas pelo Estado, Banco de Portugal, pela CGD e por outras entidades públicas, ao mesmo tempo que continuam a exercer outras funções profissionais; refiro-me aos que ganham salários chorudos em empresa que exercem a sua atividade económica em regime de quase monopólio como é o caso da EDP, REN, GALP, e que depois têm de ser suportados pelos preços excessivos exigidos aos consumidores; refiro-me aos gestores de bancos e outras grandes empresas privadas que ganham principescamente comparativamente aos restantes trabalhadores dessas mesmas empresas, mas que depois não têm qualquer pudor em recorrer aos apoios públicos para não irem á falência; refiro-me ao estatuto privilegiado de algumas classes profissionais como médicos, militares, juízes (incluindo os do Tribunal Constitucional), gestores públicos, membros dos órgãos das entidades reguladoras e muitas outras, quando comparado com os restantes trabalhadores da Administração Pública e do sector privado, nomeadamente no que diz respeito aos salários e outros benefícios auferidos; refiro-me aos beneficiários das Parcerias Público-Privadas das estradas, da saúde da energia….

Temos de reconhecer que, em Portugal, o fosso que separa os mais pobres dos que pertencem às classes mais privilegiadas não pára de aumentar, o que demonstra que o caminho que vem sendo percorrido não está a dar resposta eficaz a tamanha injustiça.

Urge mudar de rumo, o que passa por adotarmos, enquanto cidadãos, uma outra atitude em relação à vida política assim como em relação a todas as esferas de poder em Portugal. Não podemos continuar a aceitar com esta indiferença a perpetuação de tantas injustiças e que a própria Assembleia da República funcione como uma verdadeira “central de negócios” como bem refere José Gomes Ferreira no seu livro recentemente editado.

Abel Pinto

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