domingo, 17 de março de 2013

Girl Effect - "Iveste numa rapariga e... ela fará o resto!"

Diário de Coimbra, 17.mar.2013

Investir numa rapariga e... ela fará o resto, não é grande coisa … é só o futuro da humanidade.

Quem nos desafia assim? É o projeto Girl Effect (http://www.girleffect.org), iniciativa que surge em 2008, no seguimento da Plataforma de Ação de Pequim (quadro amplo de políticas mundiais com o intuito de promover a igualdade de género, o desenvolvimento e a paz), propondo-se “desenvolver ao máximo o potencial das mulheres e meninas de qualquer idade, de modo a assegurar a sua participação plena e igual na construção de um mundo melhor para todos, e valorizar o seu papel” nesse processo. O movimento encara o investimento nas raparigas adolescentes – não só na educação e saúde, mas também ao nível dos recursos disponíveis – como uma medida prioritária no combate à pobreza e na ajuda aos países em desenvolvimento. Foram criados dois vídeos, The Girl Effect e The Girl Effect: The Clock is Ticking, que ilustram de forma particularmente expressiva este impulso global.

Em Portugal, o projeto surge no âmbito das atividades do GRAAL (http://www.graal.org.pt) com o nome de Efeito Rapariga. E, embora as suas coordenadoras estejam cientes de que não vivemos num país em desenvolvimento, consideram, recordando que as estatísticas assim o demonstram, que “o fosso de acesso a oportunidades entre raparigas e rapazes, mulheres e homens” ainda não pode ser desprezado. Deste modo, em 2010, iniciaram um espaço de reflexão, análise e ação dirigido às jovens universitárias portuguesas interessadas em promover esta mudança, certas de que o segredo do movimento Girl Effect reside na força imensa do conjunto de centenas de milhares de pequenas campanhas dinamizadas por raparigas em todas as partes do planeta.

Pode parecer estranha esta ênfase nas raparigas e nas mulheres; todavia basta percorrer os dados do Instituto Nacional de Estatística (nomeadamente os resultados do Censos 2011, ou o documento “Estatísticas no Feminino: Ser Mulher em Portugal” publicado em 2012) para percebermos que, em tempos de crise, as mulheres são, sempre, um dos elos mais fracos.

Mas porquê? – questionar-se-á. Porque ainda são muitas as adolescentes que abandonam os estudos por causa de uma gravidez precoce, são demasiadas as mulheres desempregadas que vivem sozinhas com filhos menores e continua a ser assustador o número de vítimas da violência doméstica. Porque é para elas que olhamos quando nos queixamos da baixa taxa de natalidade, são as mulheres quem dispensamos quando temos de diminuir postos de trabalho, são elas que repreendemos quando ficam em casa com os filhos doentes ou quando vão trabalhar angustiadas por não poderem estar em dois sítios ao mesmo tempo.

E também porque tardamos em considerar como prioritário o investimento em iniciativas que promovam a conciliação entre a vida profissional ou escolar e a vida familiar. Criando, por exemplo, mais oportunidades de trabalho digno em part-time, ou a partir de casa, reconhecendo a importância fundamental dos serviços de acolhimento de crianças e de prestação de cuidados a idosos, flexibilizando horários de trabalho e incentivando uma maior participação do pai na vida familiar.

Mas, o que pode fazer cada um de nós? Talvez começar por ponderar algumas questões.

Será que todos (e todas) estamos convencidos de que a prevalência de estereótipos de género negativos, baseados em crenças ou atitudes sociais, afeta tanto os homens como as mulheres limitando, assim, drasticamente as suas oportunidades e opções nos domínios da educação, do emprego e da participação na vida pública? E que ao desvalorizar este apelo estamos a pôr de lado metade da população mundial? E, ainda, que, se por um lado, reconhecemos que, desde a Conferência de Pequim em 1995, se registaram assinaláveis avanços em diversas áreas, nomeadamente na da educação, todos sabemos que as médias mundiais e nacionais ocultam as diferenças entre as mulheres em função do local onde vivem, da sua condição económica, da etnia ou da idade? E é mesmo por isso, por existirem disparidades não só entre regiões e países, mas também entre escolas e bairros, famílias e associações, que o nosso contributo é indispensável na promoção da justiça e da paz, da segurança e da liberdade que, sem distinção de género, homens e mulheres, merecem. Todas (e todos).

Teresa Pedroso de Lima

Sem comentários:

Enviar um comentário

Sim, nós podemos!

Diário de Coimbra, 29.dez.2013 Temos a noção de que atravessamos tempos únicos em que os desafios intranquilos duma nova era da Civil...