domingo, 18 de março de 2012

2012-mar-18
Ref.ª: 2.6

Saúde - Concentração ou dispersão de serviços

O Centro Hospitalar Universitário de Coimbra (CHUC) uniu, numa só instituição, os HUC, o CHC (hospitais dos Covões e Pediátrico e maternidade Bissaya Barreto) e o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra (hospitais Sobral Cid e Lorvão e colónia agrícola de Arnes).
Esta concentração de serviços surpreendeu e deu azo a alguma controvérsia. Os céticos apontaram dificuldades de gestão de uma instituição tão grande, riscos de deterioração da prestação de cuidados de saúde, especialmente de urgência, para os doentes da esfera de ação do hospital dos Covões, e consideraram que se tratava de uma decisão pautada por motivações meramente economicistas.
Por outro lado, faltou a apresentação de estudos que fundamentassem a decisão política e planificações que perspetivassem o futuro. Além disso, a nomeação do conselho de administração demorou mais de um ano: primeiro, porque o Governo de então se demitiu e considerou que a nomeação de dirigentes de entidades públicas excedia as suas capacidades de gestão corrente, depois, por inércia, parecendo que o novo Governo ponderava reformular a decisão (na verdade, de entre os hospitais que se encontravam no mesmo impasse administrativo, o conselho de administração do CHUC foi o penúltimo a ser nomeado). Esta instabilidade administrativa foi muito prejudicial à boa governação do CHUC.
Hoje, no entanto, o CHUC surge instalado no terreno como a maior instituição de saúde de Portugal. Por sua vez, as vozes discordantes parecem mais conformadas.
De facto, que diferença fará aos doentes adultos a concentração do serviço de urgência? Não é verdade que para as crianças já existia apenas um serviço de urgência? Haverá justificação técnica para a manutenção de duas maternidades em Coimbra, mesmo de âmbito regional? A concentração dos serviços de gestão de recursos humanos, financeiros, de aprovisionamento e até de farmácia determinará alguma deterioração da prestação de cuidados? A unificação da informação clínica de cada doente e a sua concentração num único processo clínico acarretará algum prejuízo para os médicos ou para os doentes? A harmonização das estratégias de atuação clínica prejudicará a qualidade da prestação de cuidados de saúde?
Creio até que é desejável a criação de uma unidade local de saúde (ULS) para o concelho de Coimbra e concelhos limítrofes, à semelhança, por exemplo das ULS de Matosinhos, Alto Minho, Castelo Branco, Norte Alentejano, com responsabilidades pela prestação de cuidados de saúde de modo compreensivo, isto é, incluindo a saúde pública, comunitária, familiar e os cuidados continuados de saúde.
Como se depreende, o painel de tarefas a desenvolver é imenso e exigente, além de constituir um enorme desafio para quem se encontra a gerir o CHUC, pois envolverá alterar muitas situações confortavelmente estabelecidas. Mas importa lembrar que está em causa o bem comum e que os principais interessados e destinatários dos serviços de saúde são os cidadãos.

Carlos Paiva
(Membro da Comissão Diocesana Justiça e Paz)
Publicado no Diário de Coimbra de 2012-mar-18

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