domingo, 13 de maio de 2012

2012-maio-13
Ref.ª: 2.6
A CRISE NA RELAÇÃO “HOMEM – AMBIENTE”
O ambiente é a nossa “casa” e, por isso, a sua tutela constitui um desafio para toda a humanidade. Trata-se do dever, comum e universal, de respeitar um bem coletivo destinado a todos. É uma responsabilidade que deve amadurecer a partir da presente crise ecológica. As diversas categorias de seres, vivos ou inanimados, - animais, plantas e elementos naturais -, devem ser tratados com sentido de responsabilidade e adequadamente protegidos, porque constituem uma extraordinária riqueza para toda a humanidade. Basta lembrar as florestas que contribuem para manter equilíbrios naturais indispensáveis para a vida. A sua destruição, por incêndios ou outra via, acelera os processos de desertificação e compromete as reservas de água necessária à vida humana. Daqui resulta o dever de proteger o património florestal e promover o reflorestamento. A preservação das espécies é outro modo de proteger o ambiente.
A responsabilidade em relação ao ambiente, património comum do género humano, estende-se ao presente e ao futuro. Somos herdeiros das gerações passadas e beneficiários do seu trabalho, mas temos a obrigação de transmitir aos vindouros esse mesmo património. Responsabilidade que pertence a cada um, à sociedade e ao estado que, com legislação adequada e normas jurídicas, deve promover a defesa do meio ambiente. Do mesmo modo, a programação do desenvolvimento económico deve considerar atentamente a necessidade de respeitar a integridade e os ritmos da natureza, já que os recursos naturais são limitados e alguns não renováveis. Em alguns espaços, o atual ritmo de exploração já está a comprometer seriamente a disponibilidade de alguns recursos naturais para o tempo presente e para o futuro. A solução do problema ecológico exige que a atividade económica respeite mais o ambiente, conciliando as exigências do desenvolvimento económico com as da proteção ambiental. Neste contexto, há que considerar a relação entre a atividade humana, em especial a industrialização, e as mudanças climáticas. O clima é um bem a ser protegido e exige que no seu comportamento os consumidores e aqueles que exercem atividade industrial desenvolvam um maior sentido de responsabilidade. Com efeito, a busca de inovações capazes de reduzir o impacto sobre o ambiente provocado pela produção e pelo consumo deve ser eficazmente incentivada.
Entre os problemas da sociedade de hoje está a “questão ecológica”. Como consequência da atividade humana, verifica-se uma transformação e exploração continuadas da natureza que até pode pôr em perigo o próprio desenvolvimento do homem. Podemos mesmo dizer que a ecologia, não só como ciência mas também como resultado da ação humana, passa também por momentos de crise provocando o desequilíbrio ecológico. É por isso que nesta relação do homem com a natureza tem lugar a dimensão ética, havendo necessidade de intervenção de uma ética que seja capaz de dialogar e controlar os problemas económicos e científicos com o fim de humanizar a sociedade. Só a ética de responsabilidade racional e de força humanizadora é a única capaz de humanizar. As medidas políticas deverão depender de opções éticas, já que na escada da vida a razão ética é o degrau anterior à política e só ambas conjugadas são uma força humanizadora. Por isso, estamos certos de que a solução para a sociedade no próximo futuro terá de ser encontrada na base ética.
As relações do homem de hoje tornam-se interplanetárias. Vivemos com a consciência de ser habitantes de uma casa que é de todos, uma “Aldeia Global”. Os meios de comunicação são o “areópago” moderno que num instante nos possibilita a relação com os mais afastados. Desde este foro, o homem olha-se inseparavelmente unido a todos e espera o reconhecimento de uma sociedade ideal onde não se favoreça o consumismo dos recursos naturais não renováveis, onde haja consciência de que nem tudo o que é produzido gera bem-estar, onde o termómetro do desenvolvimento da sociedade assinale um crescimento da consideração do homem como um ser pessoal, inteligente e livre, e jamais um explorador e depredador dos bens da natureza que têm um destino universal. Os bens da terra são propriedade comum de todos os seus habitantes, mas, como são limitados e escassos, há que administrá-los com critérios de justiça e sempre em ordem à busca do bem comum.
Alberto Lopes Gil
Membro da Comissão Diocesana Justiça e Paz
(Publicado no Diário de Coimbra de 2012-maio-13)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Sim, nós podemos!

Diário de Coimbra, 29.dez.2013 Temos a noção de que atravessamos tempos únicos em que os desafios intranquilos duma nova era da Civil...