domingo, 8 de julho de 2012

2012-julho-08
Ref.ª: 2.6

CARTA ABERTA AOS GOVERNOS DO MUNDO E ÀS INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS

Caros senhores,
Sou um simples cidadão comum, de nacionalidade portuguesa, que está cético e preocupado em relação ao que se passa hoje no mundo, nomeadamente nos domínios económico e financeiro.
O que temos observado, desde meados de 2008, é demasiado grave e preocupante para que v/ Exªs., não assumam, de facto, as vossas responsabilidades e tomem as medidas que se impõem tendo em vista evitar a catástrofe que hoje afeta muitos milhões de homens e mulheres deste nosso planeta.
Não consigo compreender, como é possível tolerar que um grupo muito restrito de cidadãos e de grupos económicos que intervêm nos mercados cambiais e financeiros, possam lidar de forma tão impune com as nossas vidas, especulando sem escrúpulos nestes mercados, em prejuízo de países e de povos que trabalham desgraçadamente para aceder a um nível de vida que lhes permita viver com dignidade.
Não consigo compreender, como é possível permitir-se que as maiores transações que em cada dia se fazem, a nível mundial, tenham por base não os bens e os serviços de que necessitamos para viver, mas o próprio dinheiro, sem qualquer aderência à realidade e puramente para fins especulativos?
Não consigo compreender, como é possível permitir que sobre este dinheiro, criado artificialmente e sem qualquer correspondência com a realidade económica e financeira, se multipliquem negócios e mais negócios diários de biliões e de triliões, sem qualquer controlo das autoridades nacionais e internacionais.
A crise com que temos sido confrontados tem, como sabem, a sua origem na tamanha impunidade concedida a estes senhores e a estes grupos económicos, que se movem sem escrúpulos, sem pudor e sem ética e que se passeiam, impunemente, pelos corredores do poder, vivendo faustosamente à custa do suor, dos sacrifícios alheios.
Não consigo compreender, as razões que impedem o concerto de posições das autoridades legítimas nacionais e internacionais, para dar combate exemplar a tais impunidades e dar-lhes aquilo que realmente merecem.
Não consigo compreender, por que razões não regulam tais “mercados “dominados pela especulação, pelo ganho fácil e pela impunidade, fazendo aí aplicar o direito internacional e o estabelecimento de regras claras e transparentes de controlo e de supervisão.
Não consigo compreender, porque não se acaba, definitivamente, com os paraísos fiscais, que escondem 25% da riqueza privada mundial e que cujos lucros acumulados em 10 anos, segundo o FMI, chegariam aos 5 milhões de milhões de dólares, valor este equivalente ao total mundial das dívidas públicas acumuladas, quando há já informação bastante que comprova que estes “territórios” não estão ao serviço do bem comum, bem pelo contrário.
O que se está a passar na atualidade exige que V/ Exªs. atuem de forma mais célere e mais determinada no combate a tamanhas impunidades.
Se o não fizerem, caros senhores, terão de ser considerados cúmplices desta batota coletiva, que está a colocar em causa o nosso mundo, as nossas vidas e a aspiração legítima da humanidade a um mundo mais equitativo, mais justo e mais solidário.
O tempo escasseia e quero acreditar que ainda é possível confiarmos em V/ Exs., e na vossa capacidade, para pôr fim a tamanhas impunidades.
Abel Pinto
Membro da Comissão Diocesana Justiça e Paz
(Publicado no diário de Coimbra de 2012-julho-08)

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