domingo, 1 de julho de 2012

2012-jul.-01
Ref.ª: 2.6
VIVER A VIDA / RIR COM O CORAÇÃO
Todos sentimos dentro de nós uma grande força e uma poderosa vontade de viver. A consciência de ter de morrer é que nos dá a força de viver intensamente, aconteça o que acontecer. Não nos deixa perder tempo; faz dar valor às pequenas coisas, as mais insignificantes; faz-nos respeitar os outros; prepara-nos para viver as crises, as dores, os sofrimentos; faz-nos viver o dia de hoje como se fosse o último, porque compreendemos que o nosso tempo não é ilimitado; faz-nos agir e viver a vida como uma viagem.
Entretanto, verificamos haver muitas pessoas a quem falta a confiança em si próprias. Respira-se uma atmosfera de incapacidade. Aos jovens desempregados não se lhes dá valor nem são devidamente considerados. Muitos dos mais velhos, quando deixam de trabalhar e não têm possibilidades económicas, são marginalizados, abandonados à sorte e à morte. Depois, os cidadãos vivem um evidente sentido de fraqueza, de insegurança perante o poder político-económico. Contudo, quanto mais aumentar a insegurança, a falta de coragem, o sentido de impotência diante das suas próprias limitações, das crises e mudanças que acontecem, tanto mais precisarão de um forte sentido da confiança em si mesmos e no mistério da vida. Trata-se de uma mudança de atitude, de pensar positivamente, de aprender a ser feliz em todas as circunstâncias.
Ser feliz não depende da popularidade, do prestígio ou da riqueza económica; não depende de se ter tornado uma pessoa importante, social, económica ou politicamente, mas da consciência de si próprio. Em suma, de se ter dado conta de que fomos criados por Deus e temos uma missão neste mundo. Basta essa consciência, e progredir nela, para que nos sintamos alguém – e que alguém!. Basta esta consciência para nos sentirmos felizes por existir. Então, temos de agradecer a Deus pelo simples facto de nos ter feito nascer.
É por detrás das derrotas e tragédias que se encontra o sentido e significado da vida. Esperança! Cada um tem de reconciliar-se com a sua única e específica história pessoal, com as suas potencialidades e com as suas limitações, descobrindo e aceitando o seu verdadeiro Eu, até o afirmar a si mesmo e aos outros. Não posso apagar ou esquecer o que no passado me agradou ou desagradou, me fez bem ou mal. Apenas tenho de assumir esse passado e transformá-lo em lições, ensinamentos e indicações, para prosseguir a caminhada da vida até Deus. Só posso subir até Deus, se mergulhar na minha realidade humana. Devo mesmo imaginar que ao chegar junto de Deus, Ele me fará esta pergunta: «Quando estiveste na terra, foste tu próprio?» Deus não quer que me torne diferente daquilo que já está inscrito dentro de mim – o meu ser.
O ser humano nasce com a capacidade de ser profundamente feliz. Feliz de coração, desde sempre. Tem de lutar contra a tendência negativa e sorrir para a vida, em todas as circunstâncias. A serenidade interior e a capacidade de rir com o coração não dependem do que acontece à nossa volta, mas provêm unicamente da capacidade de encontrar sempre pedacinhos de alegria, mesmo nas situações mais negativas. A felicidade que não é do coração é impessoal, momentânea, passiva, superficial. Por outro lado, a serenidade do coração é absolutamente específica, original, individual; é duradoura, constante, ativa, voluntariamente querida, é profunda.
A serenidade do coração vem de Deus, não vem de fora, está implantada no coração do homem. Acreditar na vida, independentemente dos problemas, desilusões, fracassos, maldades, dores e sofrimentos. Viver num esforço permanente para construir uma personalidade sã, aberta, alegre, jubilosa, que permite rir de coração em todas as circunstâncias. Aprender a respeitar-se a si próprio, a escutar-se, a apoiar os seus próprios desejos, a olhar positivamente para o que encontramos na nossa caminhada, caminhada feita de pequenos passos, por vezes, demasiado apressados.
Alberto Lopes Gil,
Membro da Comissão Diocesana Justiça e Paz
(Publicado no Diário de Coimbra de 2012-julho-01)



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