domingo, 16 de junho de 2013

O que queremos para Portugal nos próximos 25 anos?

Diário de Coimbra, 16.jun.2013

Acaba de ser publicado um estudo promovido pela Fundação Manuel dos Santos, sob o título “ 25 ANOS DE PORTUGAL EUROPEU”.

Este estudo, realizado pelo escritório do economista Augusto Mateus, visa fazer um balanço sobre a integração de Portugal na Europa nos últimos 25 anos envolvendo o período entre 1986 e 2010.

A partir dos dados publicados no estudo, ficamos a saber que durante este período Portugal recebeu da União Europeia 80,9 mil milhões de euros. Se tivermos em conta que o atual QREN – Quadro de Referência Estratégia Nacional só termina no final de 2013, o valor global a receber poderá atingir os 96,7 mil milhões de euros.

Se ao valor dos subsídios anteriormente referidos juntarmos a parcela do investimento suportado por Portugal, o total investido nos últimos 25 anos superou os 156 mil milhões de euros.

Face aos impressionantes valores anteriormente referidos, cumpre questionarmos para onde foi e para que serviu todo o dinheiro investido.

A partir do referido documento, ficamos a saber que se construíram 9.468 km de estradas, 2 353 km de via-férrea, 662 universidades e escolas, 9 hospitais de raiz e 248 estações de tratamento de água; vinte e seis mil milhões de euros foram destinados à formação profissional e dois mil milhões usados para abater embarcações de pesca, apesar de mais de 90% do pescado consumido pelos portugueses ser importado.

Constata-se que a economia portuguesa continuava, em 2010, a padecer de um excesso de consumo dos cidadãos e do Estado ao mesmo tempo que o investimento foi sendo cada vez mais reduzido. A taxa mais elevada de cobertura das exportações pelas importações foi conseguida em 1986 ao atingir os 89%, valor que nunca mais foi superado nos 25 anos seguintes.

Apesar dos investimentos realizados, a indústria transformadora manteve a sua especialização nos sectores chamados tradicionais que concentram 70% do valor acrescentado bruto: alimentos, têxtil e calçado, borracha, plástico e outros minerais não metálicos e madeira, pasta e papel. Já quanto a outros sectores como os da fabricação de máquinas e equipamentos, indústria automóvel, química e farmacêutica, Portugal afastou-se cada vez mais do padrão Europeu.

No comércio internacional, fomos incapazes de fazer com que as exportações ultrapassassem os 35% do PIB. Mantivemos uma balança de bens e serviços persistentemente deficitária e uma incapacidade de fazer face à procura interna sem recurso às importações. Entre 1986 e 2010 a produção nacional nunca conseguiu satisfazer mais de 70% da procura interna de bens e de serviços.

No que respeita à despesa pública, as despesas excederam SEMPRE as receitas públicas e o défice só não superou os 3% em apenas 3 anos, ou seja, em 22 anos o défice das contas públicas foi sempre superior aos 3%.

O Estudo torna também claro que, apesar dos investimentos realizados, não foi dada a devida atenção a áreas e sectores essenciais para dotar Portugal das condições indispensáveis para fazer face aos desafios que derivam do processo de globalização em curso, nomeadamente o sector transaccionável da economia, a competitividade, a criação de riqueza e o emprego.

Face aos vultuosos montantes investido, subscrevemos a afirmação do coordenador do estudo Augusto Mateus para quem os resultados obtidos representam um semifalhanço que urge avaliar em toda a sua plenitude.

A principal questão que hoje se coloca a Portugal e aos portugueses é como vamos conseguir responder a estes novos desafios, num contexto muito mais desfavorável quer no plano nacional quer internacional.

Quanto aos erros cometidos, seria importante que os partidos e os dirigentes das diferentes entidades coletivas que tiveram um papel relevante nos últimos 25 anos, fizessem a sua autocritica em relação à sua parcela de responsabilidade nesta oportunidade semiperdida, e nos indicassem com clareza e sem subterfúgios o que propõem para que Portugal supere os desafios com que está confrontado. Este gesto assume uma relevância ainda maior se tivermos em conta que é muito provável que muitas destas personalidades voltem a assumir posições de destaque nas diferentes estruturas de poder e de comando em Portugal.

Abel Pinto

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