domingo, 11 de agosto de 2013

Depressa e bem... com a senha B

Diário de Coimbra, 11.ago.2013

11 de julho, na Solum. Tocam a campainha. O carteiro entrega-nos uma carta registada do Serviço de Finanças. Suspiro, esperando não ter de me deslocar ao balcão da 1ª Repartição. Ainda guardo na memória as notícias recentes com relatos impressivos do caos instalado e das filas intermináveis por culpa do IMT, do IMI, do IRS ou de qualquer outro imposto.

Adepta fervorosa das lojas do cidadão, do Portal das Finanças e do centro de atendimento telefónico – que já me pouparam horas e canseiras, antes dificilmente evitadas – nunca consegui perceber a dinâmica e o funcionamento da generalidade dos balcões de atendimento da grande maioria dos serviços públicos.

Todavia, a sorte não está do meu lado. Na missiva, solicita-se que, no prazo de quinze dias, apresente os documentos que serviram de base para o preenchimento de um anexo G. Fico apreensiva, mas ainda me resta uma vaga esperança. Querendo evitar, a todo o custo, o atendimento presencial, opto por telefonar para o número de Coimbra. A resposta é perentória: devo apresentar os documentos “in loco”.

A quem me dirigir? E qual será a melhor altura?, pergunto. Não quero acreditar no que ouço. Preciso de uma senha B, mas hoje (são 11 horas) já se esgotaram (!!?). Há quem opte por chegar pelas 6 horas da manhã (repito, 6 horas da manhã) para a conseguir! Alego que, além das obrigações fiscais, tenho responsabilidades profissionais que me ocupam o tempo no horário de expediente e que me é imposto um prazo de quinze dias para regularizar a situação. Percebo que nada disso interessa e que a obtenção da senha B é indispensável.

Depois de – numa derradeira tentativa – ouvir o conselho de uma pessoa amiga, dou-me por vencida e desloco-me até ao dispensador das reclamadas senhas B. Nada feito, avisa-me um utente com simpatia: «Minha senhora, já são 10:00 horas, acabaram de extrair a última». Disciplinadamente, escolho outro dia. Sexta-feira, 18 de julho. Saio cedo de casa e dirijo-me ao estacionamento do Parque Verde da cidade. São quase 8 horas quando chego à 1ª repartição, onde aguardam, cá fora e em fila, mais de vinte pessoas. A porta está fechada e todos parecem encarar esse facto com uma naturalidade que me assusta. Um cenário deprimente, naquele parque de estacionamento assim transformado em (magnífica!) sala de espera.

Só nos abrem a porta uns instantes depois das 9:00. Consigo, finalmente, a senha B020 e entro para uma sala com dez balcões de atendimento. Preparo-me para esperar, mas, de forma surpreendente, chamam-me pelas 9:50. Sou atendida por A. F. que, de forma expedita e agradável, me informa que um imóvel herdado pelos filhos na sequência da morte de seus progenitores deve ser registado de forma diversa da que tinha sido por mim indicada. Podendo fazer essa alteração online, regresso a casa cheia de vontade de pôr um ponto final nesta saga. Não foi, contudo, fácil. Desta vez, nem o Portal das Finanças foi amigável. Para resolver o impasse foram necessários mais dois telefonemas, um deles, avisadamente, para falar com quem já tinha tratado do assunto.

Este episódio faz-me lembrar um provérbio a que a minha Mãe recorria quando desempenhávamos uma tarefa de forma atabalhoada e impaciente: «Depressa e bem ... há pouco quem». Ao que, podendo, respondíamos: «Mas, devagar e mal ... é geral».

E é para não ser muito injusta com pessoas como A. F. que, quando critico o atendimento em serviços públicos, ainda me inibo de dizer … devagar e mal … é geral.

Teresa Pedroso de Lima

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