domingo, 21 de abril de 2013

Evitar as comparações


Diário de Coimbra, 21.abr.2013

Nunca estaremos bem, se nos compararmos, de modo permanente, com os outros. Nunca mais viveremos a nossa vida pessoal. Nunca mais poderemos ser otimistas.

Comparando-nos com os outros, viveremos sempre, sem o saber, em estado de inferioridade. No fundo, em poder do outro! Um poder que, na realidade, o outro não possui, mas que lho entregamos na nossa mente. Quem não tem uma boa autoestima está condenado a viver de comparações.

Para sair dessa situação, não precisamos de desvalorizar o outro. Para nos revalorizar a nós próprios, não devemos denegrir o outro, dizendo mesmo que o que ele mostra não passa de aparência!

De modo algum, devemos estar insensíveis aos problemas dos outros, porém, sem nos deixarmos influenciar a ponto de ser invadidos por eles e perder a nossa autonomia. Precisamos de muita energia para nos ocuparmos e centrarmo-nos em nós próprios, a fim de respeitar as componentes da nossa personalidade. Respeitando a nossa originalidade e especificidade, realizaremos a nossa tarefa de ajudar verdadeiramente os outros. É mais fácil ajudar os outros do que a si mesmo.

Não devemos amar-nos como amamos os outros; mas, como diz Jesus Cristo, agir ao contrário: “Amar os outros como a ti mesmo”. Não podemos substituir o nosso coração pelo do outro porque, neste caso, nunca viveremos na primeira pessoa e traímos o verdadeiro objetivo para que nascemos e não poderemos possuir a autoestima. Deste modo, também nunca tomaremos como referência a nossa pessoa nem a nossa unicidade. Viveremos, como muitos fazem, à procura do consenso dos outros, da sua aprovação. Viveremos atemorizados com as suas censuras e críticas, viveremos subjugados.

O nosso Deus não nos criou escravos, mas pessoas! A figura de escravo representa bem esse modo de viver: como presa dos outros, em poder dos outros, dependente dos outros e da sua vontade. Mas Deus torna-nos livres. Deus aprecia-nos precisamente por aquilo que Ele sabe que somos. Na medida em que nos esquecemos de ser filhos de Deus é que nos deixamos ferir pelos outros. Ninguém pode tirar-nos o valor e a liberdade que cada um possui ! Mas, se tal acontecer, é porque nós lho permitimos.

O problema da autoestima é sobretudo um problema espiritual. De facto, deixarmo-nos caminhar para Deus liberta-nos definitivamente da dependência dos outros e da opressão das suas opiniões.

Quem tem um coração alegre não se enfurece contra o mal, mas pensa em fazer o bem. Lutar contra o mal gasta muita energia. Além disso, devemos pôr-nos sinceramente diante de nós mesmos, ver e reconhecer os nossos complexos, problemas, lados escuros. Talvez seja um pouco doentio voltar-nos para o mal do outro. Portanto, é preferível não perder energias a combater o mal no outro, mas investi-las em fazer concretamente o bem. Mais que situados na maldade do outro, a preparar defesas, contra-ataques, estratégias e táticas, é bem melhor situar-nos em nós e, de maneira prática, desenvolver ainda mais os nossos pensamentos e atividades de modo a realizar formas e obras de serviço, de ajuda, de partilha, de amor.

Não viver contra alguma coisa ou alguém, mas viver para alguma coisa ou para alguém.


Alberto Lopes Gil

Sem comentários:

Enviar um comentário

Sim, nós podemos!

Diário de Coimbra, 29.dez.2013 Temos a noção de que atravessamos tempos únicos em que os desafios intranquilos duma nova era da Civil...